Orquestração da aprendizagem no Ensino Superior -
contributos para a qualidade da aprendizagem e para o sucesso académico
O insucesso académico no ensino superior leva a que muitos dos estudantes concluam os cursos para além dos limites temporais estabelecidos. A aposta em modelos construtivistas de aprendizagem centrada no estudante, na sua autonomia e responsabilidade (pressuposto de Bolonha) reforçam a necessidade de um olhar aprofundado sobre esta questão. Embora o insucesso no ensino superior não tenha sido alvo de tantos estudos como em níveis de ensino antecedentes (OCDE, 2007; Ramalho, 2004) o seu impacto não é menor pelos efeitos que produz quer para os indivíduos quer para as sociedades.
Tomaremos como referência dois dos modelos que mais contributos têm dado para a compreensão da aprendizagem de qualidade e do sucesso académico no ensino superior. O modelo SAL (Students Approaches to Learning) e o modelo SRL (Self-Regulated Learning). Nas últimas três décadas o modelo SAL debruçou-se sobre três componentes fundamentais do aprender: concepções, abordagens e percepção sobre os contextos de aprendizagem. A partir das experiências descritas pelos estudantes, estes estudos revelaram a existência de relações entre as três componentes, a qualidade da aprendizagem e os resultados académicos (Entwistle 2007; Marton & Säljo, 1997; Chaleta et al, 2009). Por seu turno, o modelo SRL, centrou-se na análise de factores pessoais, sociais e académicos como elementos centrais e determinantes do rendimento académico, explorando variáveis passíveis de serem consciencializadas e controladas pelos estudantes, tornando-os assim mais competentes e eficazes no aprender (Carneiro & Veiga Simão, 2007; Rosário et al, 2008b; Zimmerman & Schunk, 2008). Os estudos sobre a metacognição constituem-se, também, como centrais no que se refere à compreensão da aprendizagem explorando componentes relativas ao controle dos processos cognitivos, afectivos e motivacionais (Efklides, 2006; Brown, 2006). Embora a motivação sempre tenha sido considerada um factor significativo no processo de aprendizagem, o maior relevo atribuído aos sentimentos e às emoções, relacionados com as tarefas e experiências de aprendizagem e o impacto que estes podem no sucesso académico dos estudantes é bastante mais recente.
A complexidade do processo de aprendizagem encontra-se ilustrada no conjunto de variáveis que enunciámos anteriormente. Para aprender é necessário ter em conta múltiplas componentes e também as suas relações. É neste sentido que se torna relevante o construto de orquestração do estudo proposto por Meyer (1991; 2000) dado que pressupõe que a obtenção de sucesso implica variedade de componentes, de processos e de coordenação desses mesmos processos.
Os nossos principais objectivos visam não só conhecer como aprendem os nossos estudantes, mas também testar o constructo de “orquestração” que, no caso do presente estudo, denominaremos de orquestração da aprendizagem. Tal significa identificar a relação entre os construtos inicialmente considerados (abordagens, concepções e percepção dos contextos de aprendizagem) e averiguar da possibilidade de este poder integrar outras componentes como a auto-regulação e a metacognição.